sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Joana Coana – Nwandambi

Os anos 1990 testemunharam, através do Top Feminino da Rádio Moçambique, o surgimento de uma fornalha de intérpretes da Música Ligeira Moçambicana que acabaram definindo o padrão do que veio a ser a postura artística e ideológica das artistas da década seguinte.

Entretanto, a mudança ou inovação, neste novo padrão, não estava propriamente na música – a música éra uma continuação ou extensão do que Elsa Mangue, Elvira Viegas, Mingas e Guilhermina Caetano (Guê-Guê) já vinham fazendo. A inovação estava na ideologia. Artistas como Rosália Mboa, Safira José, Resiana Jaime, Wizzy Massuke, Joana Coana, etc., já não choravam pelos homens como Elsa Mangue, já não ligavam a mínima para o engajamento social e político como Elvira Viegas, já não eram abstratas como Mingas e nem chegavam a ser tão extravagantes quanto Zaida Chongo.

Na década em que se introduziram o multipartidarismo político e as liberdades económicas e sociais, elas eram feministas, emancipadas, cantando o orgulho de ser mulher, e pondo em causa a “superioridade” masculina.

E as editoras surgidas durante o mesmo período no mercado musical moçambicano – Vidisco, Orion, Sons d’Africa, J&B Recordings – ajudaram-lhes a ganhar maior visibilidade e divulgação.

Nwandambi é um produto desse período. Lançado no ano 2000, ano das grandes enxurradas que semearam desgraça no sul de Moçambique, o título é uma referência a essa catóstrofe – “nwandambi” significa mais ou menos “Sr. Enxurrada”.

É um álbum vigoroso, cheio de força, iluminado pela obra-prima “Nichenguiwiile”, pelo poderoso grito contra a criminalidade urbana “Nilamneleni” e pelo hit inspirado em reggae “Jowawani”.


por Niosta Cossa



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