sexta-feira, 19 de outubro de 2012

“Ainda sonhando com música” – história de um artista popular (Entrevista com Moisés Manjate)

Músico publicamente conhecido desde a década 30, Moisés Manjate tem hoje 52 anos de idade. Há tempos deixou de ser visto em palcos e nas festas de casamento porque arrumou o seu amplificador com a falta de peças e encostou a sua viola já sem fios à parede, dedicando-se ao seu trabalho na cooperativa de consumo do Bairro da Polana, esperando um dia voltar a dedicar-se à música, logo que para tal houver condições. Não sabe quando, mas espera.

Na entrevista que concedeu à revista “Tempo” para a rubrica “Gente da Terra”, este artista da música ligeira moçambicana, membro fundador do famoso conjunto Djambo e Djambo/70, desenha a sua trajectória artística, cita alguns nomes de músicos que gosta e de que não gosta, e critica a superficialidade do trabalho musical de muitos agrupamentos e cantores da nova geração, sobre os quais pensa que muitos apenas se preocupam em gravar e fazer nome.


Entrevista conduzida por Filipe Mata
Fotos de Naíta Ussene e arquivo do entrevistado

(extraída da Revista Tempo, Edição 568, de 30 de Agosto de 1981)




Conjunto Djambo – Músicas do Conjunto Djambo

Um dos mais brilhantes conjuntos de Marrabenta do período anterior à independência de Moçambique, aqui com algumas das maiores músicas moçambicanas alguma vez feitas. O Conjunto Djambo com os clássicos “Elisa Gomara Saia”, “Laurinda”, “Bambatela Sabado” e “Xinwanana”.

Agrupamento formado em 1950 e que atravessou a década até aos anos 1960, foi dos mais representativos grupos de Marrabenta, rivalizando em popularidade com o Conjunto João Domingo. E  legou à Música Moçambicana aquelas obras-primas que foram prolongadas e popularizadas pela Orquestra Marrabenta Star de Moçambique no pós-independência.


por Niosta Cossa



J.K. Khazamula – Madala

O terceiro da tríade – Shaka Bundu, King of Shangaan Disco, Madala – de obras-primas da música de discoteca de Gazankulo.

Dos 3 grandes álbuns de Shangaan Disco, Madala é o mais estranho, e, provavelmente o melhor deles. É Shangaan Disco, mas não é um álbum pomposo, e as músicas parecem mais tradicionais, folclóricas, do que propriamente músicas de discoteca. E a voz sinistra e o mau canto de Khazamula acentuam ainda mais a estranheza do álbum.

É um álbum surpreendente, maravilhoso a cada música que passa. Portentoso! Álbum que realmente não tem música má, e que não fecha com remixes ou instrumentais como éra prática dos artistas de Shangaan Disco no início dos anos 1990. Aliás, fecha brilhantemente com a magika “Nitlagenleini Nghoma”.


por Niosta Cossa



Joana Coana – Nwandambi

Os anos 1990 testemunharam, através do Top Feminino da Rádio Moçambique, o surgimento de uma fornalha de intérpretes da Música Ligeira Moçambicana que acabaram definindo o padrão do que veio a ser a postura artística e ideológica das artistas da década seguinte.

Entretanto, a mudança ou inovação, neste novo padrão, não estava propriamente na música – a música éra uma continuação ou extensão do que Elsa Mangue, Elvira Viegas, Mingas e Guilhermina Caetano (Guê-Guê) já vinham fazendo. A inovação estava na ideologia. Artistas como Rosália Mboa, Safira José, Resiana Jaime, Wizzy Massuke, Joana Coana, etc., já não choravam pelos homens como Elsa Mangue, já não ligavam a mínima para o engajamento social e político como Elvira Viegas, já não eram abstratas como Mingas e nem chegavam a ser tão extravagantes quanto Zaida Chongo.

Na década em que se introduziram o multipartidarismo político e as liberdades económicas e sociais, elas eram feministas, emancipadas, cantando o orgulho de ser mulher, e pondo em causa a “superioridade” masculina.

E as editoras surgidas durante o mesmo período no mercado musical moçambicano – Vidisco, Orion, Sons d’Africa, J&B Recordings – ajudaram-lhes a ganhar maior visibilidade e divulgação.

Nwandambi é um produto desse período. Lançado no ano 2000, ano das grandes enxurradas que semearam desgraça no sul de Moçambique, o título é uma referência a essa catóstrofe – “nwandambi” significa mais ou menos “Sr. Enxurrada”.

É um álbum vigoroso, cheio de força, iluminado pela obra-prima “Nichenguiwiile”, pelo poderoso grito contra a criminalidade urbana “Nilamneleni” e pelo hit inspirado em reggae “Jowawani”.


por Niosta Cossa