quinta-feira, 10 de maio de 2012

Carlos e Zaida Chongo – Sibo


O que Neil Young escreveu sobre Johnny Rotten, “The king is gone but he’s not forgotten/ This is the story of a Johnny Rotten” [“My My, Hey Hey (Out of the Blue)”], adapta-se muito bem para a história de Zaida Chongo: a rainha se foi mas jamais será esquecida, a grande e única Zaida Chongo!

É 1997, é o primeiro álbum do casal Chongo, o início de um ciclo de álbuns que mudaram e animaram a Música Ligeira Moçambicana.

A Música Moçambicana – falo aqui da música executada com instrumentos ao vivo (excluindo o Pandza e o Hip-Hop e outros géneros e subgéneros juvenis aparecidos na segunda metade da década de 1990 e inícios da década de 2000) tem uma subtil particularidade: ela está dividida. Usando expressões grosseiras, por um lado, tem a música para exportação – de artistas “virados” para o estrangeiro (nos três sentidos, o primeiro, de estarem influenciados por estéticas da música ocidental e africana mundialmente famosa, por exemplo, nos detalhes; nas variações; por vezes, na composição sucinta pop do verso-coro-verso, noutras vezes, na fórmula fela-kutiana longa e descomprometida; e na maneira com fazem as improvisações dos solos; o segundo, de a sua música ter, como alvo preferencial os mercados estrangeiros; e o terceiro, de gravarem nos estúdios estrangeiros, e até lançarem por editoras estrangeiras) cuja música é mais artística, mais complexa, mais detalhada, mais intelectual, mais polida, como os Ghorwane, Kapa Dêch, Eyuphuro, Jimmy Dludlu, as duas versões do Grupo RM (Orquestra Marrabenta Star de Moçambique e Amoya) – e tem a música interna – “música feita para consumo doméstico” de artistas cuja música, ainda que influenciada pela música ocidental, é basicamente tradicional, e é mais directa, linear, simples, bruta, crua, popular, (usualmente gravada em estúdios nacionais, e lançada por editoras nacionais) como Pfani Mpfumo, Eusébio “Zeburane” Tamele, Alberto Mutcheca, Francisco Mahecuane, Alexandre Langa. À esta música interna, vulgarmente, chamam Música Ligeira Moçambicana – com o tempo darei mais detalhes e características da Música Moçambicana.

Carlos Chongo, a força criativa por detrás do duo, éra um herdeiro dos últimos. As suas músicas eram directas, simples, brutas, cruas. Entretanto, tinham uma vibração e um apelo, que não se encontram em nenhum artista antes dele (e ainda não se encontraram em nenhum depois dele). Ou melhor, seu estilo é melhor definido no www.macua.org: “Carlos Chongo é produto da fusão entre a música tradicional "shangana" e a Marrabenta” (http://www.macua.org/mp3/sibo.html).

Aquelas características, que já eram únicas, tornaram-se ainda mais distintas e superiores com a presença e atitude de Zaida Chongo, a mais extravagante, mais provocadora, mais polémica, mais contestada e mais aplaudida dos artistas moçambicanos.

Zaida, entanto que vocalista, éra como a música de Carlos: simples, directa, crua; não tinha grande técnica e sua voz não éra bonita. Mas a sua entrega e o seu canto são dos mais excitantes que se encontram em toda a Música Moçambicana. E quando combinavam as vozes, ela e Carlos, criavam algo que de belo não tinha muito, mas que excedia em poder e sedução. Por outro lado, em cima do palco, Zaida Chongo éra imbatível. Aliás, de lá veio boa parte da sua notoriedade. Éra uma grande dançarina. E muito escandalosa.

A banda que os acompanhava éra muito forte. Como guitarrista, Carlos Chongo tinha um técnica e som únicos, e a secção rítmica, composta de Fernando Mavume e Xavier Nhantumbo, éra poderosa; eles é que mantinham a música vibrante e em grande nível.

Particularmente, este álbum tem um grande início. A primeira metade do álbum é formidável. “Hahela”, “Sibo”, “Psikoxana Psa Xaniseka”, “A Wansati” e “Ningue Psikhopsi” são grandes músicas. A segunda metade não é tão impressionante quanto a primeira mas também é forte – onde sobressaem “Ku Tsemba Munu”, “Machele” e “Ungani Tequeli Nuna”.

Sibo, a obra inicial de uma grande banda, é um grande álbum. Outro produto de qualidade de uma grande década para a Música Moçambicana. E este álbum convence logo na quarta música, onde, quando Carlos canta “a wansati” (“a mulher”), Zaida junta-se à ele e afirma “juro, angana tsembo” (“juro, não merece confiança” – em casos de amor, namoros, casamentos); e mais adiante vai ainda mais longe quando Carlos afirma “ku tsemba wansati” (“confiar numa mulher” e ela responde “hoti boha goda hi weshi” (“é suicidar-se”). É Zaida, sim, uma mulher, quem canta estes versos!

Realmente, Zaida Chongo, artisticamente, éra profissional e descomprometida (para além de talentosa). Qualidades que, actualmente, muito raramente se encontram no campo feminino da Música Moçambicana.


por Niosta Cossa



http://www.mediafire.com/?27m5oi3zfobkn62

2 comentários:

  1. Well said bro, o really salute you, keep it up and help us to learn and understand more about our culture.

    ResponderExcluir
  2. Boa música essa para uma dedicação moçambicana!!?!

    ResponderExcluir