quinta-feira, 10 de maio de 2012

Baden Powell & Vinícius de Moraes – Os Afro-Sambas de Baden e Vinícius


O extravagante poeta Vinícius de Moeta com o quieto guitarrista Baden Powell mais o Quarteto em Cy, numa das maiores, mais duradoiras e ímpares obras-primas da Música Brasileira: Os Fro-Sambas de Baden e Vinícius.

Um álbum belo, espontâneo e infinitamente criativo, mescla inacreditável de alegria (derivada da efervescência do Samba) e tristeza (advinda dos cantos afro-brasileiros da Bahia). A sonoridade é mágica: capoeira, candomblé, samba misturados num som distinto, melodioso e melancólico, criado por Baden Powell. E, liricamente, é Vinícius de Moraes com referências recorrentes à divindades negras-africanas (os Orixás, no geral, e Xangô, Iemanjá e Exu, em particular), belos poemas e aforismos sobre a natureza do amor. O canto, esse, é descontraído e harmonioso, à cargo de Vinícius e do deslumbrante Quarteto em Cy, mais o “coro da amizade” – “nesse coro estão presentes Eliana Sabino, filha do escritor Fernando Sabino, Betty Faria, iniciando sua carreira artística no teatro e na dança, Tereza Drumond, namorada de Baden, Nelita, então esposa de Vinicius, Dr. César Augusto Parga Proença, psiquiatra e o médico Otto Gonçalves Filho” (http://www.luizamerico.com.br/fundamentais-baden-vinicius.php), pois, “a intenção apesar dos arranjos elaborados, era dar um tratamento simples, despojado e espontâneo a gravação” (idem).

É um estranho e petrificante e, no fim da audição, gratificante, este Os Afro-Sambas de Baden e Vinícius, álbum de 1966.

A concepção do álbum, criado para ser profundo enquanto soa à lúdico e ao mesmo tempo acessível, fundindo afro-ritmos com o samba acusticamente é ousada o quanto baste, mas funciona – quase 10 anos depois, Gilberto e Jorge Bem tentaram a mesma fórmula com músicas mais longas, mais loucas, mais secas e sem coristas, mas igualmente profundas e grandiosas.

Os Afro-Sambas de Baden e Vinícius vale tanto pela fórmula bem como pelas músicas. Individualmente cada música é única e uma preciosidade. “Tempo de Amor” é tão bonita, tão triste, tão desesperada e redentora quanto “Canto de Xangô” é inspiradora e reafirmadora da vida. “Canto de Iemanjá” e “Bocoché” são calmos e imponentes odes à Iemanjá, seguidos, um após o outro. “Canto de Ossanha”, para além de ser uma obra-prima, abre o álbum e o resume em si: tudo que vem a seguir, ainda que carregando identidade própria, é um pouco desta música.

Simples, inovador, continuamente surpreendente, Os Afro-Sambas de Baden e Vinícius mantém-se actual. O que não espanta: é uma obra-prima genuína.


por Niosta Cossa



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