quinta-feira, 12 de julho de 2012

Thomas Mapfumo & The Blacks Unlimited – Live at El Rey


Grande compositor e dos vocalistas mais excitantes da região austral de África, acompanhado por sua magnífica banda. Na casa El Rey, em Albuquerque, New Mexico, por ocasião do quinquagésimo aniversário de Mapfumo – o concerto é de 1995, no entanto, foi lançado em 1999 – tocam apenas 7 músicas, com bateria, baixo e um ataque de duas mbiras gêmeas. As mbiras, insistentemente e maravilhosamente, dão alma às músicas, contudo, estranhamente, o baixo de Allan Mwale é que acaba dominando o som da banda – o que torna as coisas ainda mais interessantes.

O minimalismo da instrumentalização (e do canto) e a preponderância do baixo, à primeira, surpreende, estranha e, até certo ponto, frustra, mas aí é que estão a novidade e a força do concerto. O concerto é das mbiras; a bateria e, principalmente, o baixo estão presentes para tornar as músicas dançáveis – e aqui é que estão expostas também as limitações da mbira como instrumento rítmico e/ou central de um concerto. No entanto, são necessárias repetidas audições para se perceber esta ideia louca de instrumentalização e andamento das músicas.

Mapfumo e os Blacks Unlimited dão um concerto vigoroso em El Rey. “Hwahwa” acaba sendo uma obra-prima. “Chikende”, tão dançável e forte quanto um concerto de mbiras consegue ser. E, “Pfumvu Paruzheva”, excitante.


por Niosta Cossa

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Bonga – Paz em Angola



Colectânea lançada em Fevereiro de 1991, com a paz angolana em mente – paz que viria a ser assinada em Maio do mesmo ano, em Bicesse –, Paz em Angola, como o próprio título denuncia, celebra os dias de paz que se instalariam em Angola por aqueles dias.

E os celebra da melhor maneira, com (algumas d)as melhores músicas de Bonga e com o melhor do que o Kasukuta e o Semba e a Kizomba têm por dar para se escutar.

Paz em Angola é um grande álbum festivo, que, curiosamente, carrega amarguras (“Zé Kitumba”) e começa com lamentos (“Olhos Molhados”). É exuberância, é alegria, é certeza de dias melhores. Ouvido agora, 20 anos após o seu lançamento, para além de álbum festivo, soa à um álbum reconciliador, que tinha o intuito de lavar mágoas e cicatrizar as feridas que os angolanos haviam causado uns nos outros. E é por isso que é cheio de força – claro, as grandes músicas contidas no álbum também foram fundamentais para a força deste álbum que se mantém actual, passadas duas décadas sobre seu aparecimento.

É um álbum esperançoso – até nos dias angolanos de hoje. É Bonga no seu melhor.


por Niosta Cossa


Bob Marley and The Wailers – Survival



Indiscutivelmente, Bob Marley éra grandessíssimo, como vocalista e, principalmente, como compositor. Os Wailers eram uma grande banda, e tinham, nos irmãos Barrett, uma fabulosa secção rítmica. E as I Threes eram grandes vocalistas de apoio.

Dentre os álbuns desta maravilhosa equipa, Survival, que apareceu 2 anos antes da morte do seu poderoso líder, é o mais relacionado com África. Contém o hino “Zimbabwe”, em apoio à independência deste país da África Austral, e “Africa Unite”, um chamado para o regresso dos negros (e africanos) à África, para além de outras menções (indirectas) à África – a música que dá título ao álbum, “Top Rankin’”, “Babylom System”, “Ride Natty Ride”.

Este é também dos seus melhores álbuns, perfeito em termos de produção e brilhante em composição – não se encontra música má nele.

É, de alguma forma, um álbum triste, há uma tristeza que percorre o álbum do início ao fim, mas, também é reconforte e revigorante. Com o álbum, Marley deixa um recado para os africanos (e para os povos oprimidos): há que sobreviver-se, para se continuar a lutar por um amanhã melhor.


por Niosta Cossa


Jeremias Ngwenha – Músicas de Jeremias Ngwenha



Vindo do Bairro de Mavalane, apareceu, no meio da década 1990, aquele que veio a revelar-se como sendo o maior poeta da Música Ligeira Moçambicana: o genial e inimitável Jeremias Ngwenha.

A Música Ligeira Moçambicana, desde o seu início, teve brilhantes poetas e excelentes liricistas, contudo, Ngwenha (e)levou a poesia à um outro nível. E deu um outro significado ao protesto. Onde Zeca Alage havia parado na contestação das desgraças da guerra civil, Jeremias Ngwenha começou para protestar contra as injustiças sociais do Moçambique pacificado.

E trouxe uma poesia tão vulgar e, simultaneamente, tão inteligente; poesia forte que criticava o poder vigente e, sem hipocrisia, se solidarizava aos carenciados e injustiçados; que a sua música acabou reduzida à sua poesia.

Entretanto, Jeremias Ngwenha éra também um grande compositor. As músicas presentes neste pacote, uma fusão de Marrabenta e Muthimba – como muito bem foi caracterizado no http://www.verdade.co.mz/vida-e-lazer/49-musica/292-banda-fundada-por-jeremias-ngwenha – são o testemunho dos talentos de um brilhante compositor.

São 3 músicas fortíssimas, as presentes neste pacote, das melhores músicas moçambicanas. “Kassi Ka Maputo”, aqui na sua versão original, é mais forte e incisiva do que a versão que posteriormente apareceu em La Famba Bicha. O hit “Vada Voche” não diminuiu em nada com o passar dos anos, nem a sua força rítmica nem a actualidade da sua letra, e continua a surpreender, passados tantos anos. “Hayekani Massango”, música que apareceu na colectânea Vidas Positivas – disco composto de músicas de vários artistas, que procurava chamar atenção para o drama do HIV/SIDA –, com as especulações que foram – e ainda são – veiculadas sobre as causas da morte do artista – que muitos associaram e/ou associam àquela doença –, hoje tornou-se perversa e curiosa, mas mantém-se uma grande música.

Jeremias Ngwenha, realmente, partiu cedo. Com apenas 35 anos de idade. Tal qual outros furacões que abalaram e mudaram a Música Moçambicana – Zeca Alage partiu com 34 anos; Zaida Chongo foi-se com 33 anos; Tony Django deixou-nos com 38 anos. Nenhum deles chegou à velhice, todavia, as obras que deixaram vão envelhecer com os moçambicanos. E os moçambicanos têm se recordado, amiúde, do grande Jeremias Ngwenha e têm celebrado estas 3 grandes músicas – e outras que deixou.


por Niosta Cossa




http://www.mediafire.com/?9ggugc6myn5k146

360 Graus – Músicas dos 360 Graus



O grupo de Hip-Hop que saiu da Coop para o topo do Hip-Hop Moçambicano. Grupo de Mic B e Ell Puto, os produtores, que, entre outras associações e ramificações, contava nas suas fileiras com os talentosos Denny OG e Suky, os fantasiosos Bala de Prata e Dinomite e Dygo Boy, o excelente Chamil, a adorável Julie e o, na altura, muito promissor Hernani, dominou e mudou o Hip-Hop feito em Moçambique, entre os anos de 2003 e 2005.

Eram bons demais. Inventivos e cheios de sedução. Muito disciplinados comercialmente, pops no verdadeiro sentido, com bons sentidos para fazer um coro fácil e envolvente, letras apelativas e músicas altamente sucintas, num coro-verso-verso estonteante.

Entre os 3 grandes grupos que, no início da década 2000, abriram caminho para o Hip-Hop, em direcção ao mainstream – Gpro, Trio Fam e 360 Graus –, os 360 Graus, contrariamente à Gpro, não tinham letras profundas, e em oposição aos Trio Fam, não tinham a intenção de ser levados à sério. Com os 360 Graus, a ideia éra fazer um hit e mover-se para o próximo.

Eles foram os inventores e expoentes máximos do sub-género hip-hop que em Moçambique ficou conhecido como Bounce – este sub-género, musicalmente, distingue-se pelas suas batidas leves, ressoantes, amigáveis, com claras intenções de apelar à dança; pelas suas letras nada sérias, fantasiosas; e seus executantes, normalmente, apresentam atitudes frescas, mimadas e poses de milionários.

As músicas/singles presentes neste pacote – que os 360 Graus lançaram na primeira metade da década 2000 –, são um dos melhores conjuntos de música festiva de toda a Música Moçambicana. Lado a lado com Independance e Marrabenta Piquenique, ambos da Orquestra Marrabenta Star de Moçambique, estas músicas dos 360 Graus são o melhor conjunto de músicas de dança do catálogo musical moçambicano.

Ao todo, são 10 músicas, 10 grandes músicas. Começa com o single de assalto “Six O”, que os firmou como uma grande força do Hip-Hop de Maputo, e termina com “Vamos Tchilar”, o seu último grande single, do álbum Selecção Nacional. Pelo meio, estão “Não Podes Ser Assim”, que originalmente apareceu no álbum Manicómio Vol. 1, de Suky, “In tha House”, de Bala de Prata, “Não Paro o Flow”, de Chamil, e aquela que é, provavelmente, a música que mais sucesso fez no Hip-Hop Moçambicano, “Dinomite Está Zangado”, de Dinomite, uma obra-prima perversa, divertida, com composição superiomente feita, letra falaciosa e sedutora, um canto lento e entorpecente, e refrão altamente fantasioso e envolvente.

Os 360 Graus, posteriormente, lançaram Selecção Nacional, mas este álbum não tinha a mesma força nem a mesma fantasia nem a mesma criatividade das músicas que fizeram a fama do grupo – reunidas neste pacote de 10 músicas. Depois, ramificaram-se, alguns membros sairam, outros entraram. E, eventualmente, o grupo desbaratou-se.

Mas o seu legado ficou e ficará para sempre. Foram eles que inventaram o Bounce. E foram eles que, no Hip-Hop de Moçambique, popularizam a moda de dizer os nomes dos membros dos grupos e dos produtores das músicas nas partes iniciais e finais das músicas. Um grande grupo! Um grande legado!


por Niosta Cossa




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