domingo, 9 de junho de 2013

Alberto Mucheca – Rozita


O álbum Rozita, de 2005, é negro e morto, arrastado; sombrio demais para um artista cuja música, normalmente, é viva e alegre. E é longo também, com as músicas mais longas de Alberto Mucheca. Dos compositores mais prolíferos e interessantes da Música Moçambicana. E um dos mais originais e facilmente identificáveis guitarristas moçambicanos.

Simultaneamente, é o álbum mais pessoal e dolorido. Rozita é o nome de uma das suas irmãs que ajudou na sua criação. A música “Mariani” conta uma travessura amorosa sua. “Aninamamani” é uma introspecção e lamento das misérias de sua vida com inclinação religiosa. “Salomao” é uma obra-prima, e uma das músicas mais dançáveis do álbum – a outra é “Mabunda” –, de agradecimento a um amigo, pela amizade entre outras coisas. E “Bebeti” é outra obra-prima, esta um consolo para a perda de ente-queridos, com uma elegia emocionante de Sara José Machava, no final, dedicada ao filho.

A Marrabenta de Alberto Mucheca é inconfundível, constantemente apelando mais ao corpo do que à mente. Aliás, a originalidade de Mucheca é tão forte que acaba sendo o único artista cujo envolvimento com a J&B não comprometeu o seu som.

Para este álbum que, sonoramente, é mais morto do que outra coisa, Mucheca ainda discursa e fala em praticamente todas as músicas – à moda Xidiminguana. O torna o álbum chato e difícil de se atravessar.

Contudo, no final do mesmo, uma coisa fica clara: Rozita é uma obra-prima da Música Ligeira Moçambicana!


por Niosta Cossa



segunda-feira, 3 de junho de 2013

Gonzana – Reviver com Sabor


Dentre os monstruosos vocalistas moçambicanos, Gonzana é o que mais facilmente canta. Como se não fizesse esforço algum. O canto sai-lhe tão naturalmente como a extensão de uma ideia. E é tão belo e tocante.

Enquanto uns se contorcem, se retorcem e gritam como se estivessem a exorcizar demónios (Wazimbo e Tony Django), a outra canta dramaticamente como se transportasse a própria vida na voz (Zena Bacar), o outro explode com tudo numa torrente de versos oscilantes, ora acelerando, ora abrandando (Alberto Machavele) e os restantes são simplesmente irresistíveis e estimulantes (João Cabaço, Mingas, José Mucavel e Flash Ency), Gonzana é suave, é puro, quase angelical. Entretanto inquietador. Mexe e remexe com quem lhe escuta, perfurando o ouvido, arrebatando o coração e perturbando a alma.

Este álbum, produzido por Júlio Silva, como o próprio título denuncia – Reviver com Sabor – traz músicas ficadas num tempo distante da história cultural moçambicana, a maior parte das mesmas compostas por aquele que talvez seja o maior compositor dentre os que vieram antes da independência de Moçambique: Djuma Mucatsica (ou Mukatsica).

Todo o álbum, ainda que longo, é forte, compacto. Entretanto, “Ao Tomi Wociwon” (de Djuma Mucatsica) destaca-se. Embora triste, até certo ponto trágica, a leitura da música, por parte de Gonzana e Júlio Silva, torna-a uma reafirmação da vida.

“Wene Wango” (outra de Mucatsica) é uma balada fabulosa, com o seu sabor de Salsa-Marrabenta. E “Mawaco”, na voz de Gonzana, recomenda-se vivamente.

Um excelente álbum da Música Moçambicana, este de 2002. Uma grande viagem ao som de um dos imortais vocalistas que Moçambique produziu.


por Niosta Cossa




domingo, 19 de maio de 2013

Dilon Djindji – Músicas de Dilon Djindji



Neste pacote, estão reunidas 10 músicas do Rei da Marrabenta – Dilon Djindji. De “Achintlanwana” com banda à mesma música na versão acústica. Uma entrada ao reportório do génio de Marracuene. Obras incontornáveis da Música Moçambicana.


por Niosta Cossa




NB: foto tirada do site “World Music Central.org)”

domingo, 12 de maio de 2013

Jaimito Machatine – Músicas de Jaimito Machatine



Eis duas das mais finas músicas que Moçambique tem para oferecer, cortesia daquele que, para alguns, foi o mais fino guitarrista que o país produziu: Jaimito Machatine.

“Zimbabwe” e “Magika”. A primeira é uma mistura da música dos Jethro Tull mais o Rock psicadélico do início dos anos 1970 com Marrabenta. A segunda é uma exaltação de um género musical do sul de África de nome que dá o título à música; uma instrumental, ainda assim, fabulosa.

Duas obras-primas. Magnificamente pensadas e concebidas. Testemunhas do que se perdeu com o destino errático e perturbado que veio a colher o seu autor.

Ficam as músicas para falar pelo homem…


por Niosta Cossa




NB: imagem adaptada de foto tirada do Facebook, página da 7ª Companhia de Comandos em Moçambique.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Stewart Sukuma – Nkhuvu

Tem homens que quando se comprometem com a celebração de algo, levam a sério o comprometimento e realmente celebram, no melhor estilo e qualidade possíveis. Sem medir gastos nem ideias.

Assim o fizeram Stewart Sukuma e parceiros quando criaram Nkhuvu, uma celebração inventiva, ousada e infinitamente sedutora da Música Moçambicana.

Este álbum, de 2007, é estranho e simultaneamente familiar. De alguma forma, experimental e aventureiro. Ainda assim, da estranheza para a experimentação, alicerçando-se em aventuras sonoras novas mescladas com as antigas, Stewart acabou criando uma obra-prima intemporal. Uma mistura de géneros e ritmos e línguas onírica e ímpar, surpreendente a cada audição. Sim, cada nova audição parece uma nova revelação de um sonho confuso, mas belo e tremendamente forte, do qual não se esquece facilmente.

É um triunfo da humildade artística. De alguém que se deixa rodear por artistas assumidamente competentes e que consulta a outros que, porventura, saibam mais do que ele.

Todavia, contrariamente ao que pode parecer, juntar tantas estrelas e artistas brilhantes num mesmo projecto, nem sempre é a fórmula para o sucesso – principalmente se se tratar de artistas de escolas e visões diferentes como os que estão presentes em Nkhuvu. Entretanto, Stewart conseguiu unir estes talentos todos – Jimmy Dludlu, Lokua Kanza, Bonga, Roger, Arthur Maia, Ivan Mazuze, Elisah, Mark Goliath – e manter o foco do álbum. Tal e qual manteve o seu equilíbrio: é um álbum fantástico sem altos e baixos, constante e profundo!

A sonoridade do álbum deve mais à África do que propriamente a Moçambique. É pop africano – à Salif Keita e à o próprio Lokua Kanza – que vai entrando de música em música para Moçambique.

É o momento definitivo de Stewart Sukuma. E um dos melhores álbuns do catálogo musical moçambicano. Se não for o melhor. É muita qualidade artística. Muita competência dos executantes. E são 19 números que – olhando para os números normais (8/9/10/11/12 música) dos álbuns da Música Moçambicana, com excepção dos álbuns de Hip-Hop – poderiam ter resultado num álbum duplo. Sem contar que é possível que um dia se venha a reconhecer que o trabalho gráfico do álbum – capas e encarte – seja o mais sério e impressionante que alguma vez se realizou num disco moçambicano.

Sobre os participantes, aqueles que, praticamente, correm por todo o álbum, do início ao fim, há que se enaltecer que Stewart Sukuma, do compositor regular das “Julieta (Quem te Mandou)” e “Sumanga”, amadureceu em Afrikiti, e evoluiu monstruosamente para este Nkhuvu. Nelton Miranda é o multifacetado músico talentoso que todos conhecem. Dodó Firmo é um grande guitarrista. E Sheila Jesuíta, Naldo Ngoka e Jenny são vocalistas de apoio de grande nível: talentosos e estimulantes.


por Niosta Cossa