segunda-feira, 3 de junho de 2013

Gonzana – Reviver com Sabor


Dentre os monstruosos vocalistas moçambicanos, Gonzana é o que mais facilmente canta. Como se não fizesse esforço algum. O canto sai-lhe tão naturalmente como a extensão de uma ideia. E é tão belo e tocante.

Enquanto uns se contorcem, se retorcem e gritam como se estivessem a exorcizar demónios (Wazimbo e Tony Django), a outra canta dramaticamente como se transportasse a própria vida na voz (Zena Bacar), o outro explode com tudo numa torrente de versos oscilantes, ora acelerando, ora abrandando (Alberto Machavele) e os restantes são simplesmente irresistíveis e estimulantes (João Cabaço, Mingas, José Mucavel e Flash Ency), Gonzana é suave, é puro, quase angelical. Entretanto inquietador. Mexe e remexe com quem lhe escuta, perfurando o ouvido, arrebatando o coração e perturbando a alma.

Este álbum, produzido por Júlio Silva, como o próprio título denuncia – Reviver com Sabor – traz músicas ficadas num tempo distante da história cultural moçambicana, a maior parte das mesmas compostas por aquele que talvez seja o maior compositor dentre os que vieram antes da independência de Moçambique: Djuma Mucatsica (ou Mukatsica).

Todo o álbum, ainda que longo, é forte, compacto. Entretanto, “Ao Tomi Wociwon” (de Djuma Mucatsica) destaca-se. Embora triste, até certo ponto trágica, a leitura da música, por parte de Gonzana e Júlio Silva, torna-a uma reafirmação da vida.

“Wene Wango” (outra de Mucatsica) é uma balada fabulosa, com o seu sabor de Salsa-Marrabenta. E “Mawaco”, na voz de Gonzana, recomenda-se vivamente.

Um excelente álbum da Música Moçambicana, este de 2002. Uma grande viagem ao som de um dos imortais vocalistas que Moçambique produziu.


por Niosta Cossa




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