sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Antonio Marcos – Wamangava Ntsantsantsa

O aparecimento/entrada no mercado discográfico moçambicano, a partir dos anos 1990, de editoras como Vidisco, Orion, J&B Recordings – principalmente esta última – veio injectar novo ânimo e trouxe novas dinâmicas e oportunidades para a velha guarda da Música Moçambicana, que, de alguma forma, encontrava-se marginalizada e à beira do esquecimento, no que dizia respeito à edição de discos na era do CD.

Antonio Marcos foi um desses artistas antigos (re)impulsionados pelas novas editoras. E, com este álbum, Wamangava Ntsantsantsa, experimentou, provavelmente, o maior sucesso de sua carreira. Para além de outras boas músicas, o álbum contava na sua lista com o massivo hit “Maengane”, que cativou tanto aos mais velhos aficionados da Música Moçambicana, antiga audiência de Marcos, como aos mais novos, ouvintes que já estavam mais virados para a audição de música estrangeira.

As produções da J&B Recordings, com uma postura muito Shangaan Disco (Xigumbaza) – provavelmente para emprestar algum ritmo às músicas africanas da velha guarda, que sempre foram campeãs da falta de ritmo – nunca foram favoráveis à dinâmica própria da Música Moçambicana, em algumas músicas e artistas chegando a matar completamente as suas essências, contudo, em Antonio Marcos, elas, estranhamente, funcionam. E de que maneira!

Wamangava Ntsantsantsa é provavelmente a obra-prima de Antonio Marcos. Um misto de Marrabenta e Mussakazi fantástico. Composições fortes. E, claro, Antonio Marcos em forma, com seu canto nasalado e delicado.

No álbum, Antonio Marcos, talvez inadvertidamente, faz uma brincadeira divertida e perversa que aumenta o gosto do álbum. Na segunda música, “Aloku Unirandza” (“Se Gostas de Mim”), a mulher diz a Antoninho que, se ele gosta dela, então, que vá casa-la; e ele responde dizendo para a mulher que não se preocupe, que ele irá casa-la. Na música a seguir, “Honitekela Ntombi” (“Estás a Roubar-me a Rapariga”) um homem queixa-se e lamenta-se do facto de o Tony (Antoninho) estar a roubar-lhe a mulher. E, logo de seguida, em “Maengane” (“Enganador/Mentiroso”), a mulher vai aos Transportes Oliveira apanhar um autocarro para Maputo, atrás do Antoninho Enganador/Mentiroso, que a tirou da casa dos pais, com a promessa de uma vida melhor, para,depois, migrar para a cidade capital, onde foi tocar violas, deixando-a na pobreza.

É um álbum terno e divertido. Triste, também. No entanto, não tem os níveis altamente preocupantes de tristeza e depressão da Música Ligeira Moçambicana.

Nos últimos anos, a Música Ligeira Moçambicana raramente foi tão cativante quanto em Wamangava Ntsantsantsa.


por Niosta Cossa



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