quinta-feira, 19 de abril de 2012

Joaquim Macuácua – Teresinha Usasekile


Génio perverso e indecente, frontal e obsceno, passional e trocista, Joaquim Macuácua sabota o álbum Teresinha Usasekile do início ao fim, com cantos desajeitados e desinteressados. Ainda assim, Macuácua criou um excelente álbum. Ele a sabota, mas a música é tão forte que, por fim, sobrevive às sabotagens, e vai sobrevivendo ao tempo.

Álbum triste e frustrado, criado por/entre a provocação, a auto-paródia e o desconsolo, nos momentos em que Macuácua se mete em provocações – “Amisaven”, “Minda” – e troça de si mesmo – “Teresinha”, “Tsiketa Kurila” – o álbum ganha graça, mas mantém-se forte, e quando canta com sentimento, transcende – como na balada “Dlambo la Mumu”, uma obra-prima triste, das músicas moçambicanas mais tristes, poética e filosófica, onde recorda-se, com amargura, dos ensinamentos sobre a vida que os pais lhe transmitiram e ele não seguiu, e “Xikoxana xa Mulungu”, outra obra-prima, escrita contra os pais que se intrometem nas escolhas amorosas dos filhos. Outras músicas cantadas com sentimento, e que brilham no álbum, são “Nyanda Yeyo” e “Khombo Africa”, a última em que chora as vítimas da guerra civil moçambicana, que alastrou-se de 1977 à 1992.

Joaquim Macuácua éra indisciplinado e obsceno, mas também éra genial e convincente; defeitos e qualidades que serão encontrados em Teresinha Usasekile, entrelaçados, dando vida à este excelente álbum.

por Niosta Cossa

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