quinta-feira, 26 de abril de 2012

Gpro – Um Passo em Frente


O álbum que eternizou Duas Caras, e que colocou o Hip-Hop feito em Moçambique no mercado musical, nacional e internacional, como uma alternativa viável (e de sucesso). Este é também o álbum que transformou 100 Paus (ou Sem Paus) numa figura de culto, e que levou a Gpro ao topo do Hip-Hop Moçambicano.

Duas Caras éra bom demais, e, de imediato, foi aplaudido e reconhecido como o melhor MC que existia em solo moçambicano – à par de Flash Encyclopédia. Esta foi, na verdade, a sua primeira encarnação, antes de abandonar o Hip-Hop para à ele retornar, melhor e mais forte do que antes – desta vez, sim, como o melhor MC Moçambicano, visto que Flash parou no tempo.

100 Paus, em frente ao microfone, não éra tão bom quanto Duas Caras, e suas letras não eram criativas e desconcertantes quanto às do parceiro, mas éra eficiente, competente, o complemento perfeito para Duas Caras. Entretanto, no campo das produções, éra totalmente imbatível; (ainda hoje é) dos pouquíssimos produtores de Hip-Hop moçambicanos originais, identificáveis logo à primeira audição.

Produziu ouro puro a Gpro neste álbum, uma obra-prima da Música Moçambicana, contendo o clássico “País da Marrabenta”; a adorável “Jardins Proibidos Pt 2”, construída em volta de “I’ve Got a Song in My Heart” de Sara Tavares; a festiva “Gpro Show”, samplada de “Area Codes” de Ludacris (com participação de N’Star); a obra-prima “Kanimambo”; a genial “Interesseiras” (com a Dinastia Bantu); e a inspiradora “Até ao Fim” (feita com 3H e Master Bad).

Contrariamente ao que diz 100 Paus na música “Um Passo em Frente” – e também contrariamente ao que dizem muitos amantes e seguidores do Hip-Hop Moçambicano –, este não é o primeiro álbum de Hip-Hop Moçambicano por exemplo, os OKV já haviam lançado um álbum de Hip-Hop/Pop nos anos 1990; Fill Babe já lançara um álbum de Hip-Hop (com outros ritmos à mistura, por imposição da editora) também nos anos 1990; MC Roger já lançara um álbum que, esteticamente, éra de Hip-Hop (ainda que também com outros ritmos à mistura) também nos anos 1990, aliás, o próprio nome, “MC”, já denunciava que o Roger éra, efectivamente, um rapper no início da carreira; o nigeriano Shortly Shaw, lançado por MC Roger, já lançara também ele um álbum de Hip-Hop aqui em Moçambique.

O que éra realmente novo (e foi inovador em Um Passo em Frente), éra a postura completamente hip-hop do álbum: a concepção do álbum como um produto hip-hop, feito na sua totalidade por hip-hoppers, dentro dos códigos hip-hop, com linguagem hip-hop, comprometido com a “causa” hip-hop, a sua apresentação ao mercado musical como um álbum que não tinha outra intenção que não fosse ser encarado como um álbum hip-hop e, acima de tudo, como um álbum independente, que não vinha pela mão das editoras – até esta altura, as editoras forçavam os artistas de Hip-Hop a incorporarem outros ritmos comerciais nos seus álbuns como forma de garantir o “sucesso” do produto.

Portanto, Um Passo em Frente não foi o primeiro álbum de Hip-Hop Moçambicano, foi, isso sim, o álbum que definiu o padrão do que deveria ser um álbum de Hip-Hop (em Moçambique).

Onde Um Passo em Frente foi primeiro, foi no alcançar do sucesso como álbum de Hip-Hop e entrada para o mainstream. Deste modo, deu origem à todos álbuns (e artistas e grupos) que surgiram após o seu lançamento – grupos como 360 e Trio Fam já haviam furado por si mesmos o seu caminho para o mainstream, contudo, ainda não eram vistos, e não se viam eles próprios, como viáveis para o lançamento de álbuns.

Depois de Um Passo em Frente, as coisas não mais foram as mesmas. Duas Caras e 100 Paus tornaram-se estrelas – mais o primeiro do que o segundo. O Hip-Hop Moçambicano reinventou-se. A Música Moçambicana mudou. Nada mais foi o mesmo, para o melhor e para o pior.


por Niosta Cossa



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