quinta-feira, 15 de março de 2012

Ghorwane – Majurugenta





Majurugenta é o primeiro álbum dos Ghorwane, provavelmente a mais influente banda moçambicana e seguramente a mais importante surgida após a independência do país.

Obra concebida na viragem de uma era, gravada em 1991, nos estúdios da Real World – antes do Acordo Geral de Paz rubricado entre as forças beligerantes do partido/governo da FRELIMO e a guerrilha da RENAMO, em 1992, após uma longa guerra civil que durou 16 anos –, e lançada em 1993, já em período de paz, é um álbum carregado de sentimentos e emoções próprias da época. A banda no seu melhor, com alguns dos melhores executantes que por lá passaram – Zeca Alage, Tchika Fernando, Carlitos Gove, Riquito Mafambane e Celso Paco –, o álbum soa como se a banda estivesse dividida entre a alegria de finalmente poder gravar um disco e a frustração de viver em uma terra em guerra.

Os compositores, principalmente Zeca Alage, soam desesperados e desconsolados. O álbum começa intensamente com a força e ritmo de “Muthimba”, uma das melhores músicas do disco e do grupo, e, logo no primeiro verso, Zeca Alage anuncia apocalipticamente que “Kuyo sala ku xaniseca” (“Só restou sofrimento!”). Daí em diante o desespero toma conta do álbum.

Em seguida, entra a música que dá título ao álbum, “Majurugenta”. Outra música de Zeca Alage. Uma obra-prima absoluta. 07 minutos e 44 segundos – na capa do disco a música foi creditada como tendo 07:42min – que passam sem que o ouvinte dê por eles. Da magnífica abertura da guitarra, passando por todo acompanhamento instrumental, com as geniais variações do baixo, a música segue tensa, lenta, levada pelo canto petrificante até a torrente final de sopros e percussões. Alexandre Chaúque, na edição online do jornal Notícias, escreveu que “foi com “Majurugenta” que Zeca Alage nos avisou quem era ele, de facto. Com aquele trabalho atirou-nos em definitivo para a esteira onde nos devíamos ajoelhar para ele passar” (http://noticias.sinfic.pt/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/22216). E não mentiu.

Após “Matarlatanta” de Roberto Chitsondzo, Zeca Alage volta com mais duas grandes composições, “Xai-Xai” e “Mavabwyi”. A primeira, uma “sad and powerful song”, como a descreveu Gerry Leisight no encarte do disco e, a segunda, a mais mexida música do álbum, sem que, contudo, deixe de ser triste e desesperada. Estranhamente, “Mavabwyi”, que nas notas do disco é descrito como retratando o período logo após a independência do país, ocorrida em 1975, fazia muito mais sentido em 1993, com o dilema do SIDA, que já se tornava mundialmente famoso, e faz muito mais hoje, onde se vai morrendo cada vez mais e repentinamente nos hospitais (Amosse Macamo, do blog Modaskavalu, também diz algo parecido sobre “Mavabwyi”, contudo escrevi sobre a música antes que tivesse lido a sua postagem naquele blog).

Efectivamente, Zeca Alage acaba contribuindo com apenas 4 músicas para o álbum. No entanto, ele domina o álbum. As suas músicas é que dão direcção e foco ao álbum, e, por todo álbum, podem-se ouvir os seus sopros e a sua marca.

O resto do álbum é composto de músicas de Roberto Chitsondzo, dentre as quais se destaca “Sathuma”. Uma música calma e repetitiva, que embala o álbum e o ouvinte para o estranho e dramático mundo de Chitsondzo.

Para quem vem aquecido pelas muthimbas de Zeca Alage, a segunda metade do álbum soa à uma chatice sem fim nas primeiras audições. As músicas de Chitsondzo parecem estar no lugar errado e o álbum sabe à falta de coesão. No entanto, à cada nova audição, as composições de Chitsondzo, vão se revelando e impressionando.

As músicas de Chitsondzo são muito mais leves e simples do que as de Alage, mas como o canto de Chitsondzo é dramático e suas composições lentas, praticamente sem vida, acabam sendo tão sombrias quanto as de Zeca Alage.

A música de encerramento espelha melhor o humor do álbum e das composições de Roberto Chitsondzo. Com “Akuhanha”, não se entende se a banda está a celebrar ou a chorar. A única coisa que se discerne é desespero.

por Niosta Cossa

http://www.4shared.com/rar/rd4Di3Iz/G_-_M__1993_.html

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