Tem homens que quando se
comprometem com a celebração de algo, levam a sério o comprometimento e realmente
celebram, no melhor estilo e qualidade possíveis. Sem medir gastos nem ideias.
Assim o fizeram Stewart Sukuma
e parceiros quando criaram Nkhuvu, uma
celebração inventiva, ousada e infinitamente sedutora da Música Moçambicana.
Este álbum, de 2007, é estranho
e simultaneamente familiar. De alguma forma, experimental e aventureiro. Ainda
assim, da estranheza para a experimentação, alicerçando-se em aventuras sonoras
novas mescladas com as antigas, Stewart acabou criando uma obra-prima
intemporal. Uma mistura de géneros e ritmos e línguas onírica e ímpar,
surpreendente a cada audição. Sim, cada nova audição parece uma nova revelação
de um sonho confuso, mas belo e tremendamente forte, do qual não se esquece
facilmente.
É um triunfo da humildade
artística. De alguém que se deixa rodear por artistas assumidamente competentes
e que consulta a outros que, porventura, saibam mais do que ele.
Todavia, contrariamente ao que
pode parecer, juntar tantas estrelas e artistas brilhantes num mesmo projecto, nem
sempre é a fórmula para o sucesso – principalmente se se tratar de artistas de escolas e visões diferentes como os que
estão presentes em Nkhuvu. Entretanto,
Stewart conseguiu unir estes talentos todos – Jimmy Dludlu, Lokua Kanza, Bonga,
Roger, Arthur Maia, Ivan Mazuze, Elisah, Mark Goliath – e manter o foco do
álbum. Tal e qual manteve o seu equilíbrio: é um álbum fantástico sem altos e
baixos, constante e profundo!
A sonoridade do álbum deve mais
à África do que propriamente a Moçambique. É pop africano – à Salif Keita e à o
próprio Lokua Kanza – que vai entrando de música em música para Moçambique.
É o momento definitivo de
Stewart Sukuma. E um dos melhores álbuns do catálogo musical moçambicano. Se
não for o melhor. É muita qualidade artística. Muita competência dos
executantes. E são 19 números que – olhando para os números normais (8/9/10/11/12
música) dos álbuns da Música Moçambicana, com excepção dos álbuns de Hip-Hop – poderiam
ter resultado num álbum duplo. Sem contar que é possível que um dia se venha a
reconhecer que o trabalho gráfico do álbum – capas e encarte – seja o mais
sério e impressionante que alguma vez se realizou num disco moçambicano.
Sobre os participantes, aqueles
que, praticamente, correm por todo o álbum, do início ao fim, há que se enaltecer
que Stewart Sukuma, do compositor regular das “Julieta (Quem te Mandou)” e “Sumanga”,
amadureceu em Afrikiti, e evoluiu monstruosamente
para este Nkhuvu. Nelton Miranda é o
multifacetado músico talentoso que todos conhecem. Dodó Firmo é um grande
guitarrista. E Sheila Jesuíta, Naldo Ngoka e Jenny são vocalistas de apoio de
grande nível: talentosos e estimulantes.
por Niosta Cossa
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