O aparecimento/entrada no
mercado discográfico moçambicano, a partir dos anos 1990, de editoras como
Vidisco, Orion, J&B Recordings – principalmente esta última – veio injectar
novo ânimo e trouxe novas dinâmicas e oportunidades para a velha guarda da
Música Moçambicana, que, de alguma forma, encontrava-se marginalizada e à beira
do esquecimento, no que dizia respeito à edição de discos na era do CD.
Antonio Marcos foi um desses
artistas antigos (re)impulsionados pelas novas editoras. E, com este álbum, Wamangava Ntsantsantsa, experimentou,
provavelmente, o maior sucesso de sua carreira. Para além de outras boas
músicas, o álbum contava na sua lista com o massivo hit “Maengane”, que cativou
tanto aos mais velhos aficionados da Música Moçambicana, antiga audiência de
Marcos, como aos mais novos, ouvintes que já estavam mais virados para a audição
de música estrangeira.
As produções da J&B
Recordings, com uma postura muito Shangaan Disco (Xigumbaza) – provavelmente
para emprestar algum ritmo às músicas africanas da velha guarda, que sempre
foram campeãs da falta de ritmo – nunca foram favoráveis à dinâmica própria da
Música Moçambicana, em algumas músicas e artistas chegando a matar
completamente as suas essências, contudo, em Antonio Marcos, elas,
estranhamente, funcionam. E de que maneira!
Wamangava Ntsantsantsa é
provavelmente a obra-prima de Antonio Marcos. Um misto de Marrabenta e
Mussakazi fantástico. Composições fortes. E, claro, Antonio Marcos em forma,
com seu canto nasalado e delicado.
No álbum, Antonio Marcos,
talvez inadvertidamente, faz uma brincadeira divertida e perversa que aumenta o
gosto do álbum. Na segunda música, “Aloku Unirandza” (“Se Gostas de Mim”), a
mulher diz a Antoninho que, se ele gosta dela, então, que vá casa-la; e ele
responde dizendo para a mulher que não se preocupe, que ele irá casa-la. Na
música a seguir, “Honitekela Ntombi” (“Estás a Roubar-me a Rapariga”) um homem
queixa-se e lamenta-se do facto de o Tony (Antoninho) estar a roubar-lhe a
mulher. E, logo de seguida, em “Maengane” (“Enganador/Mentiroso”), a mulher vai
aos Transportes Oliveira apanhar um autocarro para Maputo, atrás do Antoninho
Enganador/Mentiroso, que a tirou da casa dos pais, com a promessa de uma vida
melhor, para,depois, migrar para a cidade capital, onde foi tocar violas,
deixando-a na pobreza.
É um álbum terno e divertido.
Triste, também. No entanto, não tem os níveis altamente preocupantes de
tristeza e depressão da Música Ligeira Moçambicana.
Nos últimos anos, a Música
Ligeira Moçambicana raramente foi tão cativante quanto em Wamangava Ntsantsantsa.
por Niosta Cossa
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