Dentre os monstruosos
vocalistas moçambicanos, Gonzana é o que mais facilmente canta. Como se não
fizesse esforço algum. O canto sai-lhe tão naturalmente como a extensão de uma
ideia. E é tão belo e tocante.
Enquanto uns se contorcem, se
retorcem e gritam como se estivessem a exorcizar demónios (Wazimbo e Tony
Django), a outra canta dramaticamente como se transportasse a própria vida na
voz (Zena Bacar), o outro explode com tudo numa torrente de versos oscilantes,
ora acelerando, ora abrandando (Alberto Machavele) e os restantes são
simplesmente irresistíveis e estimulantes (João Cabaço, Mingas, José Mucavel e Flash Ency),
Gonzana é suave, é puro, quase angelical. Entretanto inquietador. Mexe e remexe
com quem lhe escuta, perfurando o ouvido, arrebatando o coração e perturbando a
alma.
Este álbum, produzido por Júlio
Silva, como o próprio título denuncia – Reviver
com Sabor – traz músicas ficadas num tempo distante da história cultural moçambicana,
a maior parte das mesmas compostas por aquele que talvez seja o maior compositor
dentre os que vieram antes da independência de Moçambique: Djuma Mucatsica (ou
Mukatsica).
Todo o álbum, ainda que longo,
é forte, compacto. Entretanto, “Ao Tomi Wociwon” (de Djuma Mucatsica) destaca-se.
Embora triste, até certo ponto trágica, a leitura da música, por parte de
Gonzana e Júlio Silva, torna-a uma reafirmação da vida.
“Wene Wango” (outra de
Mucatsica) é uma balada fabulosa, com o seu sabor de Salsa-Marrabenta. E “Mawaco”,
na voz de Gonzana, recomenda-se vivamente.
Um excelente álbum da Música
Moçambicana, este de 2002. Uma grande viagem ao som de um dos imortais
vocalistas que Moçambique produziu.
por Niosta Cossa
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