Os anos 1990 testemunharam,
através do Top Feminino da Rádio Moçambique, o surgimento de uma fornalha de
intérpretes da Música Ligeira Moçambicana que acabaram definindo o padrão do
que veio a ser a postura artística e ideológica das artistas da década seguinte.
Entretanto, a mudança ou
inovação, neste novo padrão, não estava propriamente na música – a música éra
uma continuação ou extensão do que Elsa Mangue, Elvira Viegas, Mingas e
Guilhermina Caetano (Guê-Guê) já vinham fazendo. A inovação estava na
ideologia. Artistas como Rosália Mboa, Safira José, Resiana Jaime, Wizzy
Massuke, Joana Coana, etc., já não choravam pelos homens como Elsa Mangue, já
não ligavam a mínima para o engajamento social e político como Elvira Viegas,
já não eram abstratas como Mingas e nem chegavam a ser tão extravagantes quanto
Zaida Chongo.
Na década em que se
introduziram o multipartidarismo político e as liberdades económicas e sociais,
elas eram feministas, emancipadas, cantando o orgulho de ser mulher, e pondo em
causa a “superioridade” masculina.
E as editoras surgidas
durante o mesmo período no mercado musical moçambicano – Vidisco, Orion, Sons d’Africa,
J&B Recordings – ajudaram-lhes a ganhar maior visibilidade e divulgação.
Nwandambi é um produto
desse período. Lançado no ano 2000, ano das grandes enxurradas que semearam
desgraça no sul de Moçambique, o título é uma referência a essa catóstrofe –
“nwandambi” significa mais ou menos “Sr. Enxurrada”.
É um álbum vigoroso, cheio
de força, iluminado pela obra-prima “Nichenguiwiile”, pelo poderoso grito contra
a criminalidade urbana “Nilamneleni” e pelo hit inspirado em reggae “Jowawani”.
por Niosta Cossa
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