Ainda que certas formas de
música ‘moderna’ tivessem desenvolvido nas cidades ao longo da costa africana
antes da I Guerra Mundial, elas não foram gravadas até a metade dos anos 1920,
o que é relativamente tarde considerando que as primeiras gravações (nos cilindros)
de música tradicional africana data dos anos 1900-1905, notavelmente aquelas
feitas pelos alemães Carl Meinhof (na Tanzânia) e Pater Witte (no Togo)…
Entretanto, só no último quarto
do séc. XX e com o fenómeno da “world music” (“Música do Mundo”) é que a música
pop africana ganhou o interesse das audiências de fora do continente. Antes
disso, ela éra geralmente considerada como sendo ‘híbrida’ ou ‘degenerada’, em
qualquer dos casos ‘inexistente’.
No campo artístico, até ao fim
da era colonial, o Ocidente paradoxalmente rejeitou todos os sinais de uma
evolução, por outro lado, impondo-a (a rejeição) através da força – nos níveis
económicos, políticos, religiosos e sociais. Quer aprovassem ou denunciassem a
dominação colonial, os intelectuais, amantes da arte negra, militantes da
negritude, etnólogos e musicólogos, todos concordavam em dois pontos: a defesa
da “autenticidade” e a rejeição de todas as influências estrangeiras na criação
cultural africana. Tão cedo, em 1929, no primeiro livro de importância sobre a
música da África Negra, Stephen Chauvet escreveu: “seria infinitamente
desejável que um inquérito sistemático fosse levado a cabo entre todas as
tribos africanas, conduzido por homens de grande competência ainda mais
equipados com dispositivos de gravação. Este estudo, de considerável interesse,
apresenta um carácter de emergência visto que a música negra irá em breve
corromper-se e desaparecer sob a dissolvente influência da adulterada forma de
civilização que os europeus estão a introduzir no puro coração de África”.
Como qualquer um pode ver, a
ideia de música africana “pura”, imutável e superior pois liberta de
influências estrangeiras, é muito antiga. Isto explica porquê nos nossos dias
as antologias de música pop urbana do período colonial tem sido extremamente
escassas.