quarta-feira, 6 de março de 2013

Stewart Sukuma – Nkhuvu

Tem homens que quando se comprometem com a celebração de algo, levam a sério o comprometimento e realmente celebram, no melhor estilo e qualidade possíveis. Sem medir gastos nem ideias.

Assim o fizeram Stewart Sukuma e parceiros quando criaram Nkhuvu, uma celebração inventiva, ousada e infinitamente sedutora da Música Moçambicana.

Este álbum, de 2007, é estranho e simultaneamente familiar. De alguma forma, experimental e aventureiro. Ainda assim, da estranheza para a experimentação, alicerçando-se em aventuras sonoras novas mescladas com as antigas, Stewart acabou criando uma obra-prima intemporal. Uma mistura de géneros e ritmos e línguas onírica e ímpar, surpreendente a cada audição. Sim, cada nova audição parece uma nova revelação de um sonho confuso, mas belo e tremendamente forte, do qual não se esquece facilmente.

É um triunfo da humildade artística. De alguém que se deixa rodear por artistas assumidamente competentes e que consulta a outros que, porventura, saibam mais do que ele.

Todavia, contrariamente ao que pode parecer, juntar tantas estrelas e artistas brilhantes num mesmo projecto, nem sempre é a fórmula para o sucesso – principalmente se se tratar de artistas de escolas e visões diferentes como os que estão presentes em Nkhuvu. Entretanto, Stewart conseguiu unir estes talentos todos – Jimmy Dludlu, Lokua Kanza, Bonga, Roger, Arthur Maia, Ivan Mazuze, Elisah, Mark Goliath – e manter o foco do álbum. Tal e qual manteve o seu equilíbrio: é um álbum fantástico sem altos e baixos, constante e profundo!

A sonoridade do álbum deve mais à África do que propriamente a Moçambique. É pop africano – à Salif Keita e à o próprio Lokua Kanza – que vai entrando de música em música para Moçambique.

É o momento definitivo de Stewart Sukuma. E um dos melhores álbuns do catálogo musical moçambicano. Se não for o melhor. É muita qualidade artística. Muita competência dos executantes. E são 19 números que – olhando para os números normais (8/9/10/11/12 música) dos álbuns da Música Moçambicana, com excepção dos álbuns de Hip-Hop – poderiam ter resultado num álbum duplo. Sem contar que é possível que um dia se venha a reconhecer que o trabalho gráfico do álbum – capas e encarte – seja o mais sério e impressionante que alguma vez se realizou num disco moçambicano.

Sobre os participantes, aqueles que, praticamente, correm por todo o álbum, do início ao fim, há que se enaltecer que Stewart Sukuma, do compositor regular das “Julieta (Quem te Mandou)” e “Sumanga”, amadureceu em Afrikiti, e evoluiu monstruosamente para este Nkhuvu. Nelton Miranda é o multifacetado músico talentoso que todos conhecem. Dodó Firmo é um grande guitarrista. E Sheila Jesuíta, Naldo Ngoka e Jenny são vocalistas de apoio de grande nível: talentosos e estimulantes.


por Niosta Cossa