quinta-feira, 14 de junho de 2012

Elvira Viegas – The Best of Elvira Viegas (Venho de Longe)


A carreira de Elvira Viegas dentro da Música Ligeira Moçambicana é ímpar. Dentre todos os artistas conotados com aquele género é a mais distinta. E entre as 3 grandes divas da Música Ligeira Moçambicana, Zaida Chongo, Elsa Mangue e ela (Elvira Viegas) – se considerarmos que Mingas sempre esteve mais na “Música Moçambicana Internacional” do que propriamente na Música Ligeira Moçambicana – ela é a mais consciente e mais serena.

Ao estilo pomposo e escandaloso de Zaida Chongo e à natureza depressiva-autodestrutiva de Elsa Mangue, Elvira Viegas opõe consciência e serenidade e sobriedade.

Dentro da crença e prática moçambicana da arte como uma arte educativa, Elvira Viegas é quem mais se destaca. A Música Moçambicana sempre foi rica em artistas loucos, extravagantes, rebeldes, desesperados, provocadores, moderados, conservadores, temperados e, ultimamente, engraxadores do poder político, enfim, sempre teve artistas de toda estirpe lírica e de atitudes variadas, mas nenhum chegou aos pés de Elvira Viegas como artista educadora. Elvira Viegas é única.

Tal qual é único o seu estilo, que mistura a Marrabenta e o Afro-Pop, criando um estilo suave, mas, forte, dinâmico e pulsante. Por outro lado, o canto dela, simplesmente, é o melhor (dentre o género feminino) que se encontra dentro da Música Ligeira Moçambicana.

Este The Best of Elvira Viegas, que, como sugere o título, apresenta as melhores de Elvira Viegas, não é simplesmente um exercício de recolha das melhores músicas da cantora, tal qual foram gravadas originalmente, para serem relançadas num único disco. As músicas foram regravadas para este álbum.

E nesta regravação as músicas são embaladas pelo som sombrio do teclado de Pipas, que, à entrega apaixonada de Elvira Viegas, acrescenta melancolia, deixando as músicas tensas, magníficas, em catarse, no entanto, no limiar da tristeza, da falta de ritmo e da pregação de Moral, e só lá não caem graças aos outros executantes, Stélio Zoe, Carlitos Gove Manuel de Jesus, Sacre, Pacha Viegas e o grande Sox, que mantém a música viva e focada. Fantástico! Assombroso!

Ainda em relação aos artistas, finda a audição deste The Best of Elvira, fica-se com uma certeza: Sizaquiel e Jenny são grandes vocalistas de apoio.

Um grande disco este.


por Niosta Cossa





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Avelino Mondlane – Uniukuele



Na capa do álbum Rima a Nsimo Yawena, de 1994, editado pela RM, escreve-se que “Avelino Mondlane é rotulado pelos críticos e apreciadores da música ligeira moçambicana como ROMÂNTICO , só que Avelino não é apenas isso. Ele é um dos cantores, compositores e intérpretes moçambicanos com mais experiência nos temas de cariz social. De resto, não é fácil demarcar nas suas canções, a barreira entre o amor e os problemas sociais que dilaceram os lares”. E se escreve com conhecimento profundo da obra do artista.



Definitivamente, aquela afirmação é que melhor resume a temática e a orientação musical de Avelino Mondlane, um artista que procura pureza e sentimento nos lares e/ou relacionamentos e que realça o amor e o perdão como caminhos para a felicidade e harmonia social.

Rima a Nsimo Yawena é a sua obra-prima, no entanto, este Uniukuele, de 2002, é um bom álbum. A produção sombria de Humbe Benedito, para o bem e para o mal, acaba dando sentido às composições de Avelino Mondlane. E músicas como a que dá título ao álbum, “Mutxela Ussiwana” e “Amutxai” valem repetidas audições.

por Niosta Cossa
 

 http://www.4shared.com/rar/B5vavdVD/AM_-_U__2002_.html

Miriam Makeba – Miriam Makeba



Este Miriam Makeba, de 1960, é uma mistura de ritmos sul-africanos com o Soul americano. E, tal qual em todos os álbuns divinamente concebidos e superiormente executados, em que misturas do género são experimentadas – mistura de duas culturas e/ou realidades e/ou géneros musicais de continentes diferentes –, o álbum é mágico.

Fora a verdadeira força da natureza que éra a Mama Africa, seu talento vocal éra excepcional – provavelmente a maior intérprete dentre todos os africanos. Todavia, como só força e talento não bastam para se fazer um grande álbum, as músicas deste Miriam Makeba são de grande qualidade, e fazem a distância restante que separa o puro talento da grandeza.

É dos maiores da Música Africana, onde África e o Ocidente cruzam-se magistral e naturalmente. Foi o de estreia da distinta Miriam Makeba e é um marco da Música Africana.


por Niosta Cossa


Eusébio “Zeburane” Tamele – Músicas de Zeburane



O grande Zeburane. Genial compositor de Música Moçambicana, o tal de quem se diz ter sido bluesman e também à quem se atribui inspiração nas cantigas de escárnio e mal-dizer e nas cantigas de amigo (http://wwwnantchite.blogspot.com/2009/04/eusebio-johane-tamele-um-trovador-e.html).

Portanto, a sua origem ou a sua natureza, essa é a particularidade da música de Zeburane. De Zeburane e não só; de todos os artistas moçambicanos que ajudaram a moldar e definir a Música Ligeira Moçambicana; pois, se os que vieram após eles inspiraram-se neles (Zeburane e companhia), e eles?, em quem se inspiraram?

As duas músicas deste pacote – “Bava A Nga Pswalanga” e “Tsunela Seyo” –, se não respondem cabalmente, pelo menos, deixam uma sugestão do que é a resposta.

Quanto ao facto de Zeburane ser bluesman, essa é uma questão debatível (e falseável). Zeburane é bluesman ou o Blues derivou de ritmos africanos, exactamente esses ritmos que Zeburane canta? Se, por um lado, “Bava A Nga Pswalanga” é marcadamente “blues”, por outro lado, não se pode negar que essa música e “Tsunela Seyo” têm a mesma origem. Basta escutar-se as duas músicas e apanhar-se a cadência e andamento do baixo. A primeira apenas é, de alguma forma, mais lenta do que a segunda, entretanto, reduzindo-se a velocidade da segunda ou acelerando-se a primeira, conclui-se que são o mesmo ritmo, e que não são Blues, mas, sim, pura Música Moçambicana.

Em relação à conotação da sua temática com as cantigas de escárnio e mal-dizer e com as cantigas de amigo, essas, são inegáveis. Embora não se possa descartar que Zeburane apenas fosse um artista pornográfico e não um educador da sociedade. Afinal, os artistas são artistas, não são educadores da sociedade como os moçambicanos querem ou contam que sejam.

De qualquer das maneiras, Zeburane éra um artista genial, profundo, e dos mais estimulantes que Moçambique gerou. Fora as suas origens, estas duas músicas são duas obras-primas da discografia moçambicana.


por Niosta Cossa


Fany Mpfumo – Nyoxanini


O homem que foi coroado Rei da Marrabenta ou a colectânea das suas melhores músicas. Seja uma ou outra coisa, o adjectivo é o mesmo: uma preciosidade. O álbum, contendo 18 clássicos indisputados de toda a Música Moçambicana, é uma obra-prima.

Fora os discos próprios que veio a gravar, neste disco se pode perceber porquê Alexandre Langa é um dos maiores guitarristas moçambicanos – se não for o maior. A técnica e o estilo são únicos; o som da guitarra é dos mais facilmente reconhecíveis na Música Moçambicana; aliás, o seu vocabulário guitarrístico tornou-se a base do que veio a ser conhecido como Música Ligeira Moçambicana. Éra muita qualidade junta para que não se produzisse ouro e magia: Alexandre Langa e Fany Mpfumo.

Tal qual em todos os grandes compositores moçambicanos, o desespero, a frustração, o abandono se manifestam pela música de Fany Mpfumo. O velho Mpfumo, como compositor éra brilhante e imaginativo; éra um grande criador e contador de estórias; porém, éra simples e imediato. Entretanto, o canto sincero e sentido do velho e a guitarra de Alexandre Langa conferiam toda profundidade possível à músicas simples, curtas e imediatas.

 Este disco, do início ao fim, é repleto de clássicos. “King Marracuene” (um ataque mordaz à Dilon Djindji, na “disputa” do pelo título de Rei da Marrabenta) é uma obra-prima absoluta: provocadora, densa, vibrante, chocante; ainda hoje afecta à quem a escute e perceba. A interpretação que é dada à “Hodi” é fabulosa e incomparável. “Mabuno”, “Dambu Dri Pelile” e “Nita Kukhoma hi Kwini” são geniais. “Hunga Hlupheki” é uma balada linda, uma jura de amor simples mas que desarma os corações. “Nyoxanini”, que acaba dando título à colectânea, é outra obra-prima; música triste que exorta à alegria. “A Vasati va Lomu” é brilhante, tal qual “Bata Famba ba Ndrisiya”, “A Lirhandru” e “Nichelelani”.

Enfim, este é o disco definitivo do homem-careca mágico, filho de Jeová – como o próprio se auto-intitulou.


por Niosta Cossa

 
 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chico António – Músicas de Chico António


O génio de Chico António. É o que este pacote de 3 músicas tem por oferecer. O incomparável talento de um dos maiores compositores moçambicanos.

São 3 grandes músicas, afro-pop-psicadélicas, ao melhor estilo de Chico António, gravadas entre a década 1980 e o início da década 1990.

A primeira música do pacote é “Antlissa Maria”, uma apologia ao regresso, de Maputo urbanizada para Gaza rural, para lá se levar uma vida desapegada das coisas materiais e despojada de luxos e modas citadinas, trabalhando-se no cultivo da terra e na criação de animais.

A segunda (“Mercandonga”) é pura psicadelia, um synth-afro, retratando a candonga que se vivia nos mercados alimentares moçambicanos da década 1980.

A música que fecha o pacote é “Baila Maria”, a tal música que ganhou o Prémio Descobertas da Rádio França Internacional, uma balada romântica que desenvolve para Afrobeat e termina em marrabenta-psicadelia, onde se destaca a exuberância de Mingas no canto. Genial! [Entretanto, há que reconhecer-se que o Grupo RM levou uma grande música para a França (esta versão) e de lá voltou com uma obra-prima (a versão contida no álbum Cineta)].

por Niosta Cossa




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Orquestra Marrabenta Star de Moçambique – Marrabenta Piquenique


O segundo álbum da grandiosa Orquestra da Rádio Moçambique. Marrabenta Piquenique. O título (Piquenique) e o som e a exuberância do álbum soam mesmo como se fosse o álbum de despedida de uma grande banda. Efectivamente, acabou sendo mesmo a despedida da orquestra – bom, pelo menos, para a sua composição clássica: a morte levou os geniais Sox e José Guimarães, o tempo envelheceu os fabulosos Wazimbo e Zeca Tcheco.

Outro grande álbum da Orquestra Marrabenta, outra grande obra no catálogo da Música Moçambicana, outro brilhante disco aparecido na década de 1990.

Em questões de composições e performance, este álbum é uma continuação da fórmula usada em Independance. No entanto, há uma grande diferença entre os dois álbuns. O som deste álbum é directo e brutal onde, em Independance, éra detalhado e polido. E as músicas de Marrabenta Piquenique são mais imediatas e descomprometidas, para além de que são misturadas com outros ritmos não-moçambicanos – como o Soukous e o Chimurenga. Aqui não se dão muitas voltas; vai-se directo ao assunto (e ao groove).

Um brilhante álbum, este de 1996, sem músicas más. O que de mal se pode apontar ao álbum é a colocação de “A Vasati va Lomu” (brilhantemente interpretada por Mingas) como a quarta música da lista. Esta música, ainda que brilhante, é tão lenta, tão morta, que acaba completamente desenquadrada após aquele grande início (com “Wene U’nga Yale”, “Matilde” e “Sobremesa”, o melhor início de um álbum moçambicano). A versão eléctrica de “Nwahulwana” é também grande, e muito mais poderosa do que a clássica versão acústica de Independance; e, já lá no fim, quando entra a bateria, a música transcende.

Esta grande orquestra de Marrabenta não voltará, ainda que reinventada, mas as suas obras permanecerão. E este Piquenique para sempre estará aqui.


por Niosta Cossa




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Khronic – Músicas de Khronic




A atitude “I don’t give a fuck/I’m ready to die”, imortalizada por 2Pac e Notorious BIG, em Moçambique, apenas em Khronic encontrou um herdeiro digno e alguém que soube aprofundá-la e prolonga-la, longe de limitar-se a copia-la cegamente.

Antes do regresso do inferno em grande de Duas Caras, e bem antes do Album Nu, Khronic foi quem introduziu o confessionalismo no Hip-Hop Moçambicano. Foi o primeiro a expor, de maneira aberta e honesta, as suas misérias, suas desgraças e seus demónios. E mesmo dentro de toda a Música Moçambicana, a única que talvez rivalize com ele é Elsa Mangue.

Também foi o primeiro – e único, até agora – a abordar, com franqueza e coragem, e também a aceitar o tema “morte”.

Profundo e rebelde, desesperado e cheio de atitude, do que a Música Moçambicana tem por oferecer, só Zeca Alage, Jeremias Ngwenha, Joaquim Macuácua e Duas Caras se comparam ao criativo e original rapper da Fundação, Bairro da Malhangalene.

O pacote de músicas aqui presente contém 4 obras-primas do Hip-Hop e da Música Moçambicana – “Cinzas e Pó”, “Música e Rua”, “É Assim que Essas Coisas São” e “Terra Prometida” (esta última com Plus) –  gravadas entre o início da década 2000 e 2007. O testemunho do talento de um dos melhores rappers que Moçambique produziu.

por Niosta Cossa




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